Escrito por: Amora Lavendel em 2020-06-06 00:00:00

CRONICA DE CHEGADA - Elfa Amora Lavendel

                     
            Crônica de Chegada a Wajo Hill

"Não podes ver o que és. O que vês é a tua sombra."

Rabindranath Tagore

Leia ouvindo : https://www.youtube.com/watch?v=ArOS_WsT1tw

Nariël desligou a lancha, e deixou-se  ficar ao sabor das ondas por um  tempo, observando a ilha adiante. O vento jogava seus cabelos cor de fogo de um lado a outro, por vezes expondo as orelhas levemente pontiagudas.

Realmente, a elfa Anciã, Druida não havia exagerado em sua descrição...a cidade  era linda, mágica...havia uma bruma suave e dourada envolvendo-a  ao por do sol. De longe, não era possivel pensar que oferecia tantos perigos aos Elfos. Um dia, já havia sido um lar perfeito para o seu povo, que depois havia  sido quase dizimado, e a Anciã Druida havia repovoado a ilha com Elfos de todas as classes  e tipos, atendendo ao pedido desesperado do líder que lá vivia.

Um resmungo mal humorado ao seu lado a tirou de seus devaneios.
 Nariël abaixou-se, passando a mão com carinho atrás da orelha de Zagaia, local que a Tigra Branca coçava e resmungava, onde havia sido chipada. A Elfa a abraçou , inspirando profundamente o cheiro gostoso de sua fera: - Perdão irmãzinha, mas era preciso...para todos os efeitos, eu sou uma bióloga especialista em felinos, e você está sob minha guarda, com licença do IBAMA e tudo mais. Fiquei todos aqueles anos no Rio de Janeiro fazendo a faculdade, nos preparando para esse momento, e podermos ficar juntas sem gerar especulações...você me perdoa ?

A Tigra virou-se, escorando a cabeça enorme no ombro delicado de Nariël, quase a derrubando, o focinho gelado na bochecha da elfa, que riu deliciada.  Era impressionante. A Tigra poderia esquartejar um homem em segundos, mas com sua cavaleira, era uma gatinha manhosa. Lembrou-se da saga para por a Tigra  que odiava o mar na lancha e riu de novo. 

NOVE HORAS ANTES:

A Elfa tentou de novo, empurrando com toda a sua força aquele peso.  Não dava , não tinha como. Agora era oficial, estava ferrada.

Colocou a cabeça entre as mãos, sentada na pontinha do cais,um dos pés encostando na lancha potente. Olhou com cara feia para Zagaia, que permanecia impassível, com o traseiro majestosamente grudado no chão. A fera da Kelvaroquen sempre causava problemas quando havia alguma viagem ou travessia por mar. A  Tigra branca detestava o mar, só os Deuses sabiam por que.

E Wajo Hill obrigatoriamente teria de ser acessada por mar, na localização em que estavam. Não tinha ainda idéia de onde era o portal atemporal. Então era isso. 
Um sedativo não a derrubaria, só a deixaria doida. A Elfa levantou, dando pequenas voltas em torno da tigra, que a olhava com o canto do olho, desconfiada. As pessoas na marina olhavam a situação inusitada, com um misto de medo e curiosidade. Nariel olhou em torno,batendo com o dedo indicador  no queixo fazendo biquinho e se decidiu. Havia um certo risco, claro. Mas que jeito?

Foi até adiante, onde um iate estava atracado, e dois rapazes musculosos faziam alguns trabalhos . A elfa ruiva chegou com seu melhor sorriso, explicou a situação, apontando para zagaia, que permanecia sentada, de costas. Fizeram um ar de duvida, mas quando ela mostrou os dólares para eles, decidiram.

Nariel voltou a passos aparentemente distraidos para a lancha Poison , prendeu sua moto Suzuki com segurança, ajeitou umas coisinhas ali, outras aqui, sentindo os olhos de Zagaia grudados nela. Então, deu partida na lancha quando de repente  os dois grandões pularam para dentro em posição de ataque, um deles agarrando Nariel por tras.

Zagaia levantou-se, e em segundos estava em cima deles, pronta para estripa-los. Maior do que o seu medo do mar, era o seu amor e devoção por sua cavaleira! Nariel gritou para ela, e a fera ficou estatica por instantes, os dois grandões pularam na agua e Nariel acelerou mar a dentro. Zagaia entendeu tudo  e sentou-se, emburrada.

Nariel ria, aliviada por não ter neste momento dois cadaveres na lancha e várias testemunhas para complicar sua vida.

AGORA 

Nariël levantou e desceu o convés, verificando no camarote o material da Agência de Turismo de aventura dos elfos em Wajo Hill,  , a Adventure. Já havia conferido diversas vezes, e tudo estava OK, conforme a Druida a havia instruido. Certinho. Olhou no GPS do celular. Tudo certo.

De repente, um baque surdo no barco, e viu pela escotilha Zagaia se movimentar de devagar. Correu para cima, e o viu.

Lindo, pernas levemente entreabertas, se equilibrando no balanço da lancha, os braços cruzados sobre o peito prateado e um sorriso enorme no rosto, com os cabelos azulados caindo na testa:  Basen !!! a elfa  abraçou o Elfo Aquatico com alegria. Já haviam tido um  namoro muitos anos atrás, mas hoje sabia que ele era apaixonado e totalmente dedicado à Elfa Druida que a chamara. Mas eram amigos e tinham enorme carinho um pelo outro.

_ Então pequena Calie...disse sorrindo o elfo.  Em nome da nossa anciâ, venho dar-lhe as boas vindas. Ela sente muito não estar na ilha para te receber, mas precisou viajar com urgência para o continente. E pediu-me que te entregasse isso.

Basen entregou-lhe um saquinho próprio para mergulhadores, hermeticamente fechado, e dentro um molho de chaves, com uma sereia como chaveiro. 

Nariël sorriu. As chaves da agência!

Basen disse-lhe que ali dentro também estava o endereço da agência e sua nova morada, dentro da Fortaleza dos Elfos onde ela e Zagaia estariam mais protegidas.  Deu-lhe um beijo, fez um carinho em Zagaia e saltou graciosamente no mar, desaparecendo em segundos.

A elfa apressou-se em ligar a lancha, respirou fundo e acelerou rumo ao seu destino. Pensou em Wajo Hill, enquanto ajustava o GPS mais uma vez .

Uma cidade de sombras, de horrores e de mistérios. Vários amigos seus desapareceram lá, elfos ou não. Não tinha muitas referências na verdade, teria de se infiltrar, o que não era necessariamente um problema. Sombras silenciosas...seus olhos escureceram levemente. Esperava que lá seu lado mais sombrio, que sempre tentava manter sob controle  não viesse a tona.  Já estivera a beira de ser uma alma negra, mais de uma vez. Não tinha uma boa sensação...sentiu Zagaia encostar-se nela, rosnando baixo. A fera também pressentia o que estava por vir.

Estavam nas mãos do Senhor dos Mistérios...

Bom jogo a todos.
Regra de ouro, respeito!

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